Ricardo Diniz – Cheguei a Dakar mais morto que vivo.

Dei noticia da epopeia do navegador solitário e aventureiro Português Ricardo Diniz a 16 de Janeiro de 2006.
Quando ele já estava a poucas milhas de chegar a Dakar no seu veleiro Taylor’s Port!
E de repente já passaram quinze anos desta viagem!!!


Fotografia disponibilizada por Ricardo Diniz.

Tenho estado a rever os artigos publicados aqui no zone41, e decidi fazer agora algumas perguntas ao Ricardo Diniz, que ele amavelmente aceitou responder!

Como surgiu a ideia da viagem até Dakar em 2006?

Há 25 anos que desenvolvemos Missões e Expedições para comunicar Portugal e Sustentabilidade no mundo através do Mar.
Assim que foi anunciado o primeiro Paris – Dakar a começar fora de França, e ainda por cima em Lisboa, identifiquei de imediato as inúmeras oportunidades a trabalhar.
Começámos assim a desenhar um projecto que, com alguma lata assumida, iria competir com o Paris – Dakar, agora Lisboa – Dakar, rumo ao Senegal!
Eles por estrada e deserto a fazerem barulho e a poluírem, eu sozinho no mar em harmonia com os elementos.
Embora o objectivo não fosse nunca criticar os pilotos e as suas máquinas, acreditava que o simples facto de chegar a Dakar ao mesmo tempo que os pilotos iria, naturalmente, passar a mensagem evidente de que é fundamental investirmos mais nas energias renováveis, especialmente em Portugal, por todas as condições de sol, vento e mar que o nosso país reúne. E assim foi! :)


Fotografia disponibilizada por Ricardo Diniz.

Como correu a viagem até Dakar?

Este projecto deu mesmo muita luta. Cheguei a Dakar mais morto que vivo. A viagem em si não é longa nem particularmente desafiante. Mas neste caso foi mesmo uma das missões mais duras da minha vida.
– Porquê?
O Dakar partia a 31 de Dezembro e eu tinha que zarpar nesse mesmo dia para tudo fazer sentido do ponto de vista de comunicação e propósito. No entanto, no dia 15 de Dezembro, e após mais de um ano a trabalhar este projecto, ainda estava a zeros.
Não tinha barco. Não tinha parceiros. Apenas a ideia…


Fotografia disponibilizada por Ricardo Diniz.

Todos à minha volta me perguntavam porque é que eu ainda estava a tentar quando, claramente, já não ia dar. Proibi toda a gente de me falarem no Dakar!!
Não queria energias negativas a contaminarem o meu espaço! De ninguém!!
Eu já me sentia em Dakar, logo eu sabia que ia conseguir, apenas não conseguia ainda perceber como. Não podia desistir de continuar a tentar tudo por tudo e a manifestar o que queria tanto concretizar!

Após 2 anos de diversas reuniões, porque eu sempre senti que seria uma parceria bonita, a Taylors Port liga-me a um Sábado a perguntar se ainda íamos a tempo de fazer o Lisboa – Dakar à vela.
Eu estava no Alandroal, bem longe do mar, com o meu primeiro filho com apenas 3 meses ao meu colo. Ao escutar a Taylors ao telefone percebi que tínhamos conseguido, mas que a verdadeira batalha estava agora à minha frente, pois teríamos de atingir o impossível em poucos dias, com feriados e Natal pelo meio.
Ponderei breves segundos – e com muita consciência, disse que sim, que ainda dava para fazer o Lisboa – Dakar à vela. Na manhã seguinte, bem cedo, estava reunido com a minha equipa em minha casa, a planear, a delegar e a projectar. Fui claro com eles, agora eu só podia ser o ‘Ricardo-Mar’ e tudo o resto tinha mesmo de ficar com eles. Tudo!
Eu tinha de encontrar um barco, negociar com o dono desse barco uma viagem arriscada no pico do inverno, preparar esse barco, treinar, e mais mil coisas numa lista interminável.


Fotografia disponibilizada por Ricardo Diniz.

Arrancar para o Mar, sozinho, com um veleiro que não se conhece, numa manhã fria de inverno, em vésperas da passagem de ano, que iria agora passar sozinho, é muito duro. Só pensava no meu filho e isso também me deu força para superar tudo.

O desgraçado do barco metia água, era lento e o piloto automático não funcionava bem. Fui praticamente sempre ao leme entre Lisboa e Dakar. Dormi 10 horas em 15 dias……….. Foi surreal, mas conseguimos!


Fotografia disponibilizada por Ricardo Diniz.

Qual foi o melhor momento dessa viagem?

Eu podia dizer que o melhor momento foi chegar, mas na verdade o primeiro grande momento foi quando passei a minha eterna linha de partida simbólica, que é frente ao Padrão dos Descobrimentos em Lisboa. Foi um momento de muitas emoções pois apenas alguns dias antes não tínhamos nada mais do que apenas uma ideia e muita vontade de a concretizar. Foi graças a um brilhante trabalho de equipa, muita coordenação e intensa serenidade que tudo isto foi possível. Uma vez em viagem, e a superar desafios diariamente, descobri que temos uma bateria suplente, sempre disponível, e que o nosso limite está muito além do que achamos possível. Fui obrigado a entrar em profunda harmonia com o Mar para conseguir superar o tremendo cansaço – e medo.

É também por isso que vou para o Mar, para sentir e conhecer melhor o Mar e a Natureza. Todos os dias sou inspirado pelo que vejo e estou sempre mas sempre a aprender com os exemplos maravilhosos de harmonia que a Natureza me revela em todos os momentos.

Espero nos próximos anos poder ver mais viagens por parte do Ricardo e fazer o relato das mesmas aqui no zone41!!!

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